Milhão de Assinaturas e o Início da Polêmica
A campanha “Stop Killing Games”, idealizada pelo YouTuber Ross Scott, atingiu recentemente a marca de 1 milhão de assinaturas, demonstrando a força de um movimento que busca proteger os direitos dos consumidores e preservar jogos digitais. Até o momento da publicação, já eram mais de 1,2 milhão de apoiadores, embora existam preocupações sobre assinaturas falsas ou de pessoas fora da União Europeia. Em meio a essa mobilização, a organização Video Games Europe (VGE) se posicionou contra a iniciativa, gerando críticas da comunidade gamer.
Argumentos da Indústria Contra a Iniciativa
Em comunicado oficial, a Video Games Europe alegou que manter os jogos disponíveis indefinidamente limitaria a liberdade criativa dos desenvolvedores, tornando o desenvolvimento de novos títulos “proibitivamente caro”. A organização também afirmou que servidores privados, muitas vezes sugeridos como alternativa, não oferecem a segurança necessária para os dados dos jogadores nem garantem a remoção de conteúdo ilegal ou tóxico. Além disso, destacou que muitos jogos são projetados para funcionarem exclusivamente online desde o início.
A VGE defendeu os estúdios, dizendo que o encerramento de serviços online segue um processo criterioso e que os jogadores são avisados com antecedência. Segundo o grupo, a decisão de remover um jogo do ar é complexa e “nunca é tomada de forma leviana”, sendo necessária quando a manutenção deixa de ser viável financeiramente.
Documento Detalhado e Críticas da Comunidade
A organização publicou ainda um documento de cinco páginas reforçando seus argumentos, usando linguagem corporativa e defendendo que permitir o uso de servidores privados para jogos não lucrativos pode, ironicamente, ser prejudicial aos próprios jogadores.
A resposta da comunidade gamer foi rápida e direta: muitos passaram a questionar quem realmente é a Video Games Europe. Em pouco tempo, ficou claro que não se trata de uma entidade governamental da UE nem de um órgão com poder decisório sobre legislações. Trata-se, na verdade, de um grupo de lobby que representa os interesses de grandes editoras AAA, incluindo nomes como Activision Blizzard, Bandai Namco, Electronic Arts, Epic Games, Microsoft, Nintendo, Ubisoft e outras.
O Início da Mobilização Popular
O movimento “Stop Killing Games” nasceu em abril de 2024 após o anúncio do encerramento de The Crew, popular jogo de corrida em mundo aberto da Ubisoft. Indignado, Ross Scott — do canal Accursed Farms — criou a petição, que rapidamente ganhou apoio massivo, incluindo figuras influentes como PewDiePie e Asmongold.
PewDiePie, com seus 110 milhões de seguidores no YouTube, declarou apoio total à causa e incentivou os fãs a assinarem. Já Asmongold celebrou o avanço da campanha ao postar no X (antigo Twitter): “Depois de 10 meses e mais de 800 mil assinaturas, a iniciativa está quase alcançando a meta de 1 milhão.”
Até mesmo Elon Musk, CEO da Tesla e da SpaceX, compartilhou a publicação de Asmongold, contribuindo para a visibilidade do movimento.
Desafios pela Frente e Possível Legislação
De acordo com o site oficial do movimento, a campanha questiona a legalidade da destruição de jogos vendidos legalmente aos consumidores. O tráfego intenso ao site da petição chegou a derrubar a página, tamanho o número de acessos.
Apesar da celebração, o criador Ross Scott alertou que parte das assinaturas pode ser falsa: “O site diz que atingimos 1 milhão, mas há uma chance de que muitas delas não sejam legítimas. Precisamos continuar assinando para compensar!”
Se a Comissão Europeia avançar com uma legislação de proteção aos consumidores nesse contexto, editoras do mundo todo podem ser forçadas a rever como encerram o suporte a jogos online. No entanto, se for constatado que grande parte das assinaturas é de bots ou contas falsas, a credibilidade da iniciativa pode ser colocada em xeque.
Críticas Internas à Campanha
Desde seu lançamento, o movimento também enfrentou resistência de dentro da indústria. Desenvolvedores como o estúdio Pirate Software expressaram preocupações de que a proposta é vaga demais e pode estabelecer precedentes perigosos para o setor.
Após receber críticas pesadas, ataques online e até ameaças de morte, o responsável pelo Pirate Software decidiu se afastar do seu papel na desenvolvedora Offbrand Games.
Conclusão
Mesmo diante da oposição de grandes empresas e das incertezas em torno da validade de algumas assinaturas, o movimento “Stop Killing Games” demonstra o crescente engajamento dos consumidores na defesa da preservação de jogos digitais e dos seus direitos como compradores. O debate está longe do fim, e os próximos passos da União Europeia serão decisivos para o futuro dessa causa.